EXPOSIÇÃO DE TIM BURTON EM LISBOA
O Museu da Marioneta recebe uma exposição de marionetas criadas para os filmes de Tim Burton. Descobrimos que afinal há vida no mundo da animação.
A Grande Aventura de Pee-wee, Ed Wood, Eduardo Mãos de Tesoura ou Charlie e a Fábrica de Chocolate soltam-nos imediatamente o nome de Tim Burton da língua. Mas o seu trabalho vai além dos actores de carne e osso. Quando o assunto é cinema de animação, são as marionetas as protagonistas escolhidas pelo realizador. Numa exposição única em Portugal, a Monstra – Festival de Animação de Lisboa presta homenagem a essa bonecada que ganhou vida no grande ecrã, levando duas dezenas delas ao Museu da Marioneta entre esta quinta-feira, dia 6, e 19 de Abril.
Não foi preciso respiração boca a boca nem manobras de reanimação para trazer de volta ao mundo estas marionetas, que conhecemos de filmes como Marte Ataca! (1996), A Noiva Cadáver (2005) e Frankenweenie (2012). Bastou que fossem cuidadosamente transportadas do Reino Unido para o Convento das Bernardas, um desejo que Fernando Galrito, director artístico da Monstra, cultivava há muito. “A animação é real, por mais que as pessoas possam considerá-la do espectro da imaginação”, explica. “Estes objectos são autênticos actores, com capacidades de representação reais, são capacitados através das mãos do estúdio Mackinnon & Saunders”.
Os estúdios britânicos de Ian Mackinnon e Peter Saunders são conhecidos pelas suas habilidosas capacidades digitais em desenvolver e produzir anúncios, filmes e programas de televisão animados, como O Fantástico Senhor Raposo ou Bob, o Construtor. Mais do que isso, são especializados na concepção de marionetas que de inanimadas têm pouco. A primeira colaboração com Burton aconteceu com Marte Ataca!. A partir daí foram nascendo personagens como Victoria ou Emily, de A Noiva Cadáver.
Diferente da exposição itinerante “O Mundo de Tim Burton”, que já deu a volta ao mundo, “Tim Burton – As Marionetas de Animação” faz, em ponto pequeno, uma homenagem ao realizador e aos seus filmes de animação. Para Lisboa vieram desenhos e esboços das construções imaginárias do cineasta norte-americano, 22 marionetas e um corvo. “Os esboços do próprio Tim Burton são uma obra-prima: dos vestidos, de como cada personagem os usa e como é que as personagens evoluem – desde a nudez simples à personagem complexa que transparece emoção”, explica.
A memorabilia divide-se em dois núcleos expositivos: um é semelhante a qualquer outra exposição de museu, o segundo acolhe dois espaços cénicos replicados dos filmes. “Tentámos fazer tal e qual como se as marionetas estivessem prontas a ser filmadas, é didático. Perceber como é que aquilo foi filmado.”
A cabeça de Victoria Everglot vai estar a prémio, como quem diz que vai estar bem próxima do olhar atento dos visitantes, detalhe a detalhe – “uma autêntica obra de relojoaria”, tal como a delicadeza do manto de Emily. O corvo será uma peça central, que veio atrelado com todas as suas pernas que foram necessárias para pôr o stop motion a funcionar no filme.
A destreza de Tim Burton em cruzar o universo gótico com o imaginário infantil é a razão pela qual “esta é uma exposição para ser vista por toda a gente, adultos e crianças”, refere Fernando Galrito. “Os filmes são de culto e chegam a várias gerações. É incrível a forma como com tão pouco conseguimos ser transportados para os bastidores destes filmes e desconstruir todo o trabalho por detrás de uma marioneta destas.”
Mais do que ver de perto as personagens que animaram filmes épicos como A Noiva Cadáver, é perceber as emoções que um objecto inanimado consegue transmitir. “A Mackinnon & Saunders consegue que as marionetas carreguem um lado humano. A valorização que se dá à existência das coisas é espectacular, porque estas marionetas conseguem transmitir sentimentos e mexer com quem está a vê-las e é aí que se percebe que quem as faz também põe muito coração no processo”, diz Fernando. “As pessoas têm que amar as coisas para as fazer bem.”
A programação não se fica pelas salas expositivas. Ainda antes de a Monstra arrancar (este ano celebra 20 anos, no dia 13 de Março), o Claustro do Museu serve de cenário a uma projecção do filme A Noiva Cadáver, para rever ou ver pela primeira vez. Já na segunda semana do festival, entre 23 e 27 de Março, Ian Mackinnon vai fazer duas visitas guiadas à exposição.
Local: Convento das Bernardas. Rua da Esperança, 146
Horário: Ter-Dom 10.00-18.00
Preço: €2